Após câncer e transplante de fígado, Papai Noel volta a hospital onde fez tratamento para alegrar pacientes: 'Existe cura'
24/12/2025
(Foto: Reprodução) Depois de curado, Papai Noel que enfrentou câncer volta ao hospital para alegrar pacientes
Depois de enfrentar uma cirrose, um câncer e um transplante de fígado, o "Papai Noel" Aristóteles Pires, de 72 anos, voltou ao Hospital São Vicente, em Curitiba, para alegrar os pacientes que hoje lutam para vencer desafios que ele também encarou.
Ele, que atua como Papai Noel há 54 anos, sabe bem o quanto a atenção do próximo pode ajudar quem está internado.
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"É uma forma de eu poder atender a tantos necessitados. Eu sei o que é ficar deitado em uma cama de hospital. Existe um ambiente de tristeza. E eu falei: 'Eu vou, eu posso me doar, fazer uma oração com aqueles que precisam, conversar com eles, levar uma mensagem de força, de esperança, de ser solidário'."
Tudo começou com uma dor nas costas, aos 70 anos. Ao procurar atendimento médico, descobriu que se tratava de uma trombose. Em pouco tempo, o quadro evoluiu para cirrose e, depois, para um câncer no fígado. A luta pela vida o levou ao Hospital São Vicente, onde, em abril de 2024, passou por um transplante.
Aristóteles é Papai Noel há 54 anos
Divulgação/Hospital São Vicente
"Ao mesmo tempo que você pensa que você está indo para a morte, você está indo para se recuperar. É uma guerra interna enorme, mas eu fui com fé", conta.
Aristóteles destaca que, durante o período difícil, foi o carinho dos profissionais que o acompanharam durante o tratamento que o ajudou a se manter firme. Hoje recuperado, foi esta lembrança que o incentivou a devolver a ternura recebida.
A perspectiva do Papai Noel é compartilhada com o hospital, que tem uma equipe multidisciplinar e oferece não apenas o tratamento, mas também acolhimento emocional. Segundo Francieli Bisinelli, gerente assistencial do Hospital São Vicente, a instituição vê este cuidado e a presença da família como fatores importantes na recuperação.
Para ela, a ação de Aristóteles mostra, para outros pacientes, que há vida após o tratamento.
"Para os nossos pacientes, isso se torna presença viva de que o tratamento traz benefícios, que existe a cura, que há possibilidade de um desfecho positivo, de uma vida após o processo de um tratamento que, muitas vezes, é bastante doloroso. Para os pacientes isso motiva, isso renova, vencer todos os desafios", detalha Francieli.
Anualmente, o São Vicente atende cerca de 70 mil pacientes.
Aristóteles no Hospital São Vicente
Hospital São Vicente
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Mais de meio século como Papai Noel
Segundo Aristóteles, o trabalho como bom velhinho começou em 1971, quando ele tinha 17 anos e estava longe de ter barba branca.
Foi durante um trabalho voluntário do grupo de jovens do qual participava que Aristóteles se vestiu, pela primeira vez, como Papai Noel. Na época, a roupa precisou ser improvisada.
"Não existia nem lojas oferecendo roupas e fantasias. Nós pegamos saco de estopa, um saco de batata todo furado, tingimos de vermelho, nas mangas, onde tem essa parte da pele, foram colados algodão. Não tinha barba postiça, não tinha nada. Então peguei uma bola de borracha, partimos ela ao meio, fiz o furo na parte dos olhos e a boca e o resto foi encher de algodão. Essa foi a fisionomia do Papai Noel", relembra.
Depois da experiência, em todos os anos Aristóteles passou a se vestir como Papai Noel para eventos de voluntariado, da igreja, e de amigos. Foi depois de quase 20 anos com essa rotina que a primeira oportunidade profissional chegou, e Aristóteles passou a atuar como Papai Noel também em shoppings da capital paranaense.
Doação de órgãos
Para Aristóteles, a família que decidiu doar os órgãos de uma pessoa amada, possibilitou que ele tivesse uma nova chance – o que mudou a vida dele. Ele conta que, enquanto esperava na fila para um transplante, passou novamente por outra batalha interna, que o levou a repensar os propósitos que tinha.
"Um dia eu falei assim: 'Mas eu estou rezando para quê?' Eu estou rezando para que o outro morra, para que eu possa viver? Eu estava ciente que para poder eu ser um transplantado, alguém tem que morrer e tem que me doar. Quer dizer, eu não posso pedir para o outro morrer rápido, para poder eu ser salvo. Então, eu tenho que mudar totalmente a forma de eu fazer minhas orações", conta.
Para enfrentar o momento difícil, Aristóteles mudou o foco da fé, e passou a pedir por força e resignação para aguardar com tranquilidade quando houvesse a possibilidade de ser um transplantado.
"Eu não queria a morte do outro para poder eu viver", afirma.
Um futuro é possível
Aristóteles atende pacientes em hospital de Curitiba
Hospital São Vicente
Apaixonado pelo Natal, Aristóteles vê no período um momento de agradecimento e de aproximação, em especial para aqueles que enfrentam doenças.
"Eu digo o seguinte: que ele fecha os olhos tranquilamente, alivie seu coração, agradeça por tudo que tem, por tudo o que já passou e que está passando. Mesmo que ache que o que está passando é ruim. Na realidade, não é ruim, é por seu crescimento e para poder ter um restabelecimento diferenciado na vida".
"Eu peço para que todos aqueles que estão hoje em hospitais, que eles têm que levar a mão para o céu e agradecer. Aí ele diz: 'Mas agradecer o quê?'. Agradecer por estar em um local onde estão te atendendo, onde estão lutando por você e buscando a tua cura", defende.
Aristóteles diz que sonha que o espírito natalino sensibilize cada vez mais pessoas.
"Como é bom esse mês de dezembro. Como é bom o Natal. Sabe por quê? Porque as pessoas se encontram. Os vizinhos se cumprimentam. Os estranhos se olham e dizem: 'Feliz Natal, tudo de bom, felicidades, que você tenha paz'. Você vai a uma loja e o atendente nunca te viu e te deseja felicidade. Quando existe essa condição, essa liga, tudo de bom pode acontecer. Quando a pessoa faz isso, ela está liberando o seu Papai Noel interno. Você tem o teu Papai Noel, ele está dentro de você. Põe ele para fora, sorria, cante, vibra, xingue. Que alegria. Feliz Natal!", comemora.
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